Esses dias eu atendi uma paciente Letícia, empresária, 43 anos, dois filhos (12 e 16 anos, Mariana e Leonardo).
Primeira vez comigo, veio indicada por uma amiga.
Última paciente de uma manhã bem conturbada. Eu tinha que pegar meu filho na escola, mas a conversa se estendeu.
Chegou aflita, com os olhos apreensivos. Havia palpado um nódulo na mama esquerda.
Conversamos, me contou um pouco da sua vida, do seu histórico médico, da sua rotina.
Saiu tão aflita de casa, que esqueceu os exames. Marido tira fotos dos laudos, cistos mamários.
⁃ Mesmo assim ainda quero ver seus exames.
Senta na maca, retira a blusa, o sutiã e a armadura. As lágrimas caem, as mãos tremem, a voz falha. O medo tomou conta…
Respire Ana, está tudo bem! Qual seu medo? Qual o porquê dessas lágrimas?
⁃ Doutora, EU ESQUECI DE MIM! Cuidei de todo mundo e esqueci de mim!
Ahhh como essas palavras me são familiares. Como as ouço TODOS os dias, sentada na frente de uma mesa, dentro do consultório e também olhando para o espelho.
⁃ Calma Ana, está tudo, agora VOCÊ ESTÁ AQUI! CUIDANDO DE VOCÊ! O que eu puder fazer para te ajudar, será feito.
A conversa fluiu ainda mais, duas mulheres, duas mães, duas esposas, duas profissionais que amam o que fazem e que principalmente se percebem. Que percebem o machismo, a culpa, a abdicação, a sobrecarga, o cuidado e a FALTA DELE.
Falamos do machismo em que fomos criadas e como está arraigado dentro de nós mesmo sem querer.
Falamos do nosso papel como mães de meninos, para instruí-los a fazer diferente. E ela, como mãe de menina a ensinar sua Mariana a não se contentar com menos do que ela mereça. A se posicionar diante do outro.
Ela aprendeu (e me ensinou) que nós temos que ser nossa prioridade número 1.
Eu APRENDO todo dia um pouco. Ouvindo, sentindo e observando quem senta do outro lado da mesa.
Meu OBRIGADA a cada uma de vocês que dividem um pouco das suas dores, angústias, incertezas, conquistas e celebrações comigo!
Sou muito feliz por isto!
